segunda-feira, maio 19, 2008

Notícias MV - Entrevista de C. Oliveira ao JN

"Sócios devem decidir se querem um clube de bairro ou de Liga"

Carlos Oliveira defende novo modelo de gestão e deseja Vítor Oliveira para o cargo de director desportivo.

Carlos Oliveira assumiu a presidência da SAD do Leixões há quatro anos, tendo durante esse período conduzido o centenário clube de Matosinhos à Liga, escalão onde tem lugar garantido na próxima época, depois da equipa ter garantido a permanência no última jornada. A iluminação do Estádio do Mar e a cobertura da bancada são outras das obras significativas da sua administração. OLeixões tinha acabado de garantir a permanência na Liga, no último fim-de-semana, quando Carlos Oliveira, presidente da SAD, apresentou a demissão. O líder leixonense encontra-se, assim, demissionário, mas até pode recuar na sua posição, mediante certas condições.
AM - Vai mesmo demitir-se ou está a fazer "bluff"?
CO - Nunca vivi de demagogia. Agora, só os burros é que não mudam. Apresentei a demissão por três motivos para dizer que não estou agarrado ao poder, para acordar as pessoas de um certo comodismo e para deixar um alerta sobre a necessidade de um novo modelo de gestão. Se forem criadas essas condições, que viabilizem mais um projecto de quatro anos, estou disponível para continuar.
AM - Que medidas concretas são, então, necessárias?
CO - É preciso criar um plano de investimento em relação ao capital da SAD. Diz-se que a SAD é uma empresa, mas não se criam os mecanismos necessários para a fazer funcionar como tal. A SAD foi constituída com o clube a ter 40% o que, à partida, inviabiliza a entrada de investidores externos, porque, face a tal percentagem, ninguém quer colocar dinheiro numa coisa que não pode controlar. É forçoso que haja um aumento de capital, porém o clube, por estar falido, não tem capacidade para cumprir a sua parte.
AM - Que solução apresenta?
CO - É necessária uma assembleia geral a autorizar a Direcção a reduzir a participação do clube na SAD para o mínimo legal, 15%, até porque isso não lhe faz perder o controlo que tem sobre a SAD, porque as suas acções, de acordo com estatutos, são do tipo A, o que lhe permite impedir operações de dissolução ou venda. A decisão está, assim, nas mãos dos sócios...Vou sugerir à Direcção que convoque uma assembleia-geral para explicar aos sócios que o futebol mudou e é necessário adequar os mecanismos às novas realidades. Se o clube fosse rico, não seria preciso esta alteração, mas a verdade é que a cotização dos sócios representa apenas 10% do orçamento anual. A outra percentagem exige muito esforço e capacidade de gestão. Por isso, os sócios devem decidir se querem um clube de bairro ou de Liga.
AM - Essa alteração pode cimentar a posição do Leixões na Liga?
CO - Vai ajudar muito. Mas também é preciso que as empresas de Matosinhos, nomeadamente, os restaurantes, olhem para a região que os rodeia e cumpram o seu papel social. Antes da viagem a Setúbal, pedimos 250 euros a alguns restaurantes para ajudar às deslocações dos autocarros. Não recebemos nenhum apoio. É necessário um esforço colectivo, até porque as pessoas têm que perceber que o Leixões cumpre com as suas obrigações e já não paga ordenados chorudos aos administradores. Com a ajuda do tecido empresarial, o Leixões tem potencial para estar entre os oito melhores clubes de Portugal.
AM -Se tem o plano traçado, porquê deixar cair o barco?
CO - Não depende de mim. Brevemente, vou reunir com os accionistas e ouvir as suas opiniões. Se aceitarem a minha demissão, até aproveito para fazer uma semana de férias, o que não acontece desde que há quatro anos assumi este desafio.
AM - Levou a equipa à Liga, mas a permanência desta época foi um milagre...
CO - Não concordo. Com todos os erros e vicissitudes, foi a minha administração que devolveu o Leixões à primeira divisão, ao fim de 19 anos, e conseguiu agora a permanência, garantindo a segunda presença consecutiva na Liga, o que já não acontecia há 37 anos. Não posso ser tão humilde ao ponto de não salientar esta proeza. Agora, conseguimos a permanência no campo. Fizemos mais um ponto que o Paços de Ferreira.
AM - Mas cometeram-se muitos erros pelo meio. O mercado de Janeiro, por exemplo, foi um fracasso. E desde a saída de José Manuel Teixeira, não entrou nenhum director desportivo...
CO - Mais importante que contratar o novo treinador, é fundamental que o Leixões defina claramente o seu modelo desportivo e tenha um gestor que coordene todo o futebol desde as escolinhas até ao escalão profissional. Reconheço isso. Agora, não me peçam para contratar alguém para desempenhar um cargo tão importante sem ter garantias que lhe possa pagar ao final do mês.
AM - Fala-se em Vítor Oliveira para desempenhar esse cargo...
CO - Propus-lhe isso já no ano passado, mas ele disse-me que queria treinar. Mas continua a ser, claramente, a minha primeira escolha para o cargo.